Por Ana Luiza Mahlmeister

Está quase pronta uma linha completamente automatizada de produção têxtil, montada no Senai Cetiqt, do Rio de Janeiro. O projeto que vai servir de vitrine para o setor além de ser uma plataforma educacional, começou a ser idealizado há um ano e será apresentado oficialmente durante a Convenção Internacional de Moda, da International Apparel Federation (IAF), que pela primeira vez será realizada no Brasil, programada para 16 a 18 de outubro, na cidade do Rio de Janeiro.

Localizada no campus do Senai Cetiqt no bairro do Riachuelo, a mini fábrica tem todos os componentes da chamada indústria 4.0: integração com o consumidor, produção sob demanda e etapas automatizadas com tomada de decisão sem intervenção humana, além de integração com os fornecedores em uma só cadeia, explica o professor Robson Marcus Wanka, gerente de educação da instituição.

 

COMO FUNCIONA

A linha de produção começa com a intenção de compra do cliente: o consumidor escolhe entre uma bermuda, uma calça carpinteiro, legging ou corsário e se vê em um espelho virtual que capta sua imagem e o ‘veste’ com a peça escolhida. O sistema tira automaticamente as medidas do usuário indicando se é P, M ou G, segundo um estudo antropométrico padrão. Nesse ponto vem a fase de personalização, na qual a pessoa escolhe a estampa e onde o desenho vai ficar na peça que é branca ou PT (pronta para tingimento).

O sistema pergunta ao cliente se um robô sensitivo pode tocar em sua coxa para medir seu tônus muscular. “Essa etapa é o ajuste fino do processo em que o sistema oferece uma roupa ainda mais personalizada e usa inteligência artificial para tomar essa decisão”, explica Wanka. Depois disso o cliente assina seu nome em um tablet e indica seu e-mail.

Ao aprovar a compra aciona o sistema de manufatura. Um equipamento imprime a peça no papel e este molde vai para a calandra que faz o processo de sublimação do papel para o tecido, transportado por uma esteira para a máquina de corte. Nessa etapa a peça recebe um QRCode e vai para a bancada de costura.

A costureira que recebe a peça usa um sistema de leitura do QRCode e, por meio de realidade aumentada, aprende a sequência de montagem, além de ter informações sobre as medidas e personalização pedida pelo consumidor. Após a finalização, a peça recebe uma etiqueta com o código RFID (Radio-Frequency Identification) que vai permitir seu rastreamento até o estoque e a venda.

Após a estação de costura, a peça segue para uma máquina que dobra e ensaca, sendo transportada na esteira para um estoque intermediário. Com a peça finalizada, o sistema envia um e-mail ao consumidor (informação que está no QRCode) com sua foto vestindo a peça acabada e avisando que ela está pronta. No final da bancada, um robô entrega a calça ou bermuda ao cliente.

 

CONEXÃO COM OS FORNECEDORES

A linha de produção 4.0 funciona a partir de vários sistemas integrados e em cada etapa um software de supervisão autoriza o avanço da operação, sem paradas, monitorando o tempo de produção, prevendo prazos e avaliando outros indicadores de qualidade. Ao receber o produto, o consumidor vai ao provador para experimentar o produto. Uma câmera de reconhecimento facial informa o varejista a reação da pessoa, permitindo aperfeiçoar futuras produções.

Os fornecedores também estão conectados à cadeia, programando entregas de tinta, papel e tecido de forma automática para a fábrica não parar. “O grande diferencial da indústria 4.0 é a produção sob demanda, a integração do cliente que é um agente ativo no desenvolvimento do produto, e o fluxo contínuo, sem a intervenção humana”, explica Wanka.

De acordo com o professor, o sistema trouxe diversos desafios de integração que exigiram o desenvolvimento de hardware e softwares específicos. Não existe, por exemplo, interfaces padronizadas para conectar a impressora com a calandra e com os robôs, requerendo a criação de sensores e sistemas dedicados.

 

TRABALHO EM PARCERIA

Entre os parceiros do projeto está o Senai-Rio que desenvolveu o espelho de realidade virtual e o sistema de realidade aumentada para as costureiras. O Senai Cimatec, da Bahia, foi responsável pela integração e conectividade entre as máquinas. As máquinas de costura foram fornecidas pela Silmaq. Os robôs são da japonesa Kuka, que tem um escritório de distribuição em São Paulo.

“É o primeiro robô da empresa que será usado em uma indústria têxtil pois essas máquinas são voltadas principalmente para os setores metal mecânico e automobilístico”, diz Wanka. Técnicos da Kuka desenvolveram o sistema que permite medir o tônus muscular a partir de robôs sensitivos que têm sete graus de liberdade.

INDÚSTRIA BRASILEIRA x INDÚSTRIA ALEMÃ

O professor Wanka fez parte da comitiva organizada pela Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) que visitou o Digital Capability Center, no ano passado, na Alemanha. A mini fábrica do Senai Cetiqt, em muitos pontos, é mais avançada comparado às iniciativas alemãs. “As linhas de produção que visitamos trabalham com máquinas autônomas devido à falta de padronização entre os sensores”, diz Wanka. A comitiva também não encontrou experiências de realidade virtual e aumentada.

O Senai tem recebido muitas empresas do setor têxtil interessadas em conhecer a linha de produção automatizada que estará totalmente pronta até o final de setembro. O plano é gerar escala e padronizar processos para que a implantação do sistema não seja tão cara devido à necessidade de desenvolver a integrar plataformas.

A indústria têxtil brasileira é pouco automatizada e representa um mercado imenso com suas 44 mil confecções. Após o projeto com o Senai Cetiqt, a fabricante de robôs Kuka, por exemplo, descobriu um novo mercado com oportunidades de futuros negócios, explica o professor Wanka.

PRODUÇÃO DE CAMISETAS EM SÃO PAULO

A idéia é replicar a bancada automatizada em outros Senais pelo Brasil. Uma mini fábrica já está sendo montada na unidade Francisco Matarazzo, no bairro do Brás, na capital paulista, para a produção de camisetas.

Fonte: GBLjeans – Disponível em http://gbljeans.com.br/noticia/7730.htm